terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Peguem os lencinhos, sentem-se e chorem...

Fabiana Amaral


- “Senhoras e senhoritas, o famoso creme dental Colgate apresenta o primeiro capítulo da empolgante novela de Leandro Blanco, em adaptação de Gilberto Martins: Em Busca da Felicidade.


Foi assim que começou a história da radionovela no Brasil, na Rádio Nacional, em junho de 1941. Dramas já vinham sendo testados no poderoso veículo. Mas em forma de teatro, com poucos capítulos e bem curtos, a moda trazida de Cuba virou logo uma febre nacional.

O rádio ainda não era bem explorado comercialmente e a maioria de suas transmissões era dirigida ao público masculino. Foi essa a grande sacada das novelas que, na verdade, tiveram seu início com os folhetins publicados no rodapé dos jornais a partir de 1836.

Nos Estados Unidos (para variar, o tio Sam) começou-se a enxergar um filão de mercado no público. Isso lá pelos anos 30. Eram montados melodramas que faziam a mulherada se debulhar em lágrimas com histórias da carochinha. Mas ninguém dava importância para a irrealidade dos contos. A grande sacada era que, totalmente entretidas pelos dramas das personagens, o novo público-alvo, mulheres, na sua maioria donas-de-casa, absorvia tudo que lhes era despejado.

As propagandas inseridas nos dramalhões eram constantes e a indústria de sabonetes e perfumes fazia a festa com o potencial consumista até então desconhecido. Esses programas ficaram conhecidos como "soap opera" (ópera de sabão), por causa dos patrocinadores.

Mas vocação para dramalhões tragicômicos não tem outra origem que não a latina. Foi em Cuba e outras localidades de língua hispânica que o gênero se alastrou e arraigou feito câncer. E eram dessas localidades as peças consumidas pelas "senhoras e senhoritas" do Brasil.

Por aqui, as radionovelas eram disseminadas pela agência publicitária Standard Propaganda, que detinha a conta da Colgate-Palmolive. Vendo que os ianques se deram bem com a façanha inseriam com sucesso a mesma fórmula por aqui, nos horários matutinos e vespertinos, desprezados pelos comerciantes, mas comprovadamente rico em audiência feminina.

Radiomachismo

Uma nova tendência era percebida no comportamento social. A mulher agora era tida como mercado, mas sua condição não era nem um pouco exaltada. Os dramas retratavam o machismo social - não tão distante -, com histórias ressaltando o compromisso com o lar, a subserviência ao marido e as conseqüências de não ser uma boa esposa. Afinal, era dela a culpa das puladas de cerca do marido e "ai" se reclamasse.

Quanto mais fantasioso o enredo, mais lágrimas, mais comoção, mais alienação e mais dinheiro para os patrocinadores. Todavia, o público masculino começou a dar um pouco mais de atenção ao programa das senhoras. E para agradar também a esse público o jeito foi jogar um pouco mais de realidade nas tramas, e ainda assim não perder o ar "a la" México. Característica fundamental.

Nessa onda de sucessos estrondosos, destacou-se O Direito de Nascer, do cubano Félix Cagnet. Ele sabia que essa fórmula com sonhos, anseios e fantasias vendia muito, daí a necessidade de fazer chorar. E as lágrimas rolaram quando Maria Helena, disse ao doutor a clássica frase:

"Doutor, não posso ter este filho que vai nascer" (seguidos dos Oh! Ah!).
Mas nasceu, virou comoção nacional e foi visto, depois, na TV.

Embora o sucesso fosse grande e a massificação irremediável, demorou para a radionovela se tornar diária. Isso só aconteceu na década de 1960, com o advento da telenovela. E apesar de ser avidamente consumida no Brasil, as produções radiofônicas eram veiculadas duas vezes por semana, num tempo de 20 minutos, aproximadamente. Pouco até, para o estrago que faziam.

Em trabalho acadêmico, Antonio de Andrade, professor de Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), cita o sociólogo Orlando Miranda, que dá uma idéia do que era o rádio em seu apogeu. Ele afirma que "o impacto do rádio sobre a sociedade brasileira a partir de meados da década de 30 foi muito mais profundo do que a televisão viria a produzir 30 anos depois". Para isso, as radionovelas foram fundamentais.

A moda se propagou e não só a Rádio Nacional detinha a guarda da criança. Todas começaram a produzir suas novelas, que alçavam à fama seus radioatores. Mas com a massificação da tevê, que teve sua primeira novela em 1951, as coisas pelo rádio começam a cambalear e o declínio pôde ser visto a partir da década de 1960, para culminar com o fim da radionovela em 1973. Isso oficialmente, pois com a facilidade e o baixo custo de produção, o gênero pode ser observado em várias regiões brasileiras. Principalmente no Norte e Nordeste. Sendo uma alternativa às caras produções televisivas.

Que o gênero novelístico seja classificado como cultura e lisonjeado pelas rodas intelectuais e artísticas tudo bem, mas conhecendo a origem mais popular que se intensificou no rádio chega a se fazer necessária uma reflexão sobre as novelas atuais. Para tanto basta lembrar com que objetivo começaram: incitar o consumismo. Senhoras, senhoritas e senhores, peguem os lenços e chorem. 


Postado por Paulo Paixão.

Recursos Sonoros


Segundo a definição geral, Sonoplastia é a comunicação pelo som, quer seja na fala, em ruídos ou com música. De fato a Sonoplastia transmite a alma da situação em um determinado contexto. Por exemplo,  em um longa-metragem de Terror se a Sonoplastia não transmitir medo e tensão, gerando no espectador o afloramento de seus instintos de pouco adianta sua influência.

Dessa maneira, a sonoridade quer seja no Rádio ou na TV é de grande importância para permear certas emoções inseridas em um determinado período de uma obra. E no projeto elaborado será apresentada a técnica envolvendo todos os efeitos relacionados a adaptação da obra de Nelson Rodrigues "A Dama da Lotação".

Tal obra, como muitas, fala por si própria com seus efeitos gerados quase que inconscientemente em nossas mentes e a função da Sonoplastia neste momento será de potencializar essas sensações, proporcionando ao ouvinte uma imersão quase que completa na "realidade" retratada na obra.


Portanto, em breve estaremos disponibilizando todos recursos utilizados. Fique atento!

Bruno Alves.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Conto para releitura - A Dama da Lotação


A Dama do Lotação
Nelson Rodrigues

Às dez horas da noite, debaixo de chuva, Carlinhos foi bater na casa do pai. O velho, que andava com a pressão baixa, ruim de saúde como o diabo, tomou um susto:
— Você aqui? A essa hora?
E ele, desabando na poltrona, com profundíssimo suspiro:
 — Pois é, meu pai, pois é!
— Como vai Solange? - perguntou o dono da casa. Carlinhos ergueu-se; foi até a janela espiar o jardim pelo vidro. Depois voltou e, sentando-se de novo, larga a bomba:
— Meu pai, desconfio de minha mulher.
Pânico do velho:
— De Solange? Mas você está maluco? Que cretinice é essa?
O filho riu, amargo:
— Antes fosse, meu pai, antes fosse cretinice.  Mas o diabo é que andei sabendo de umas coisas... E ela não é a mesma, mudou muito.
Então, o velho, que adorava a nora, que a colocava acima de qualquer dúvida, de qualquer suspeita, teve uma explosão:
— Brigo com você! Rompo! Não te dou nem mais um tostão!
Patético, abrindo os braços aos céus, trovejou:
— Imagine! Duvidar de Solange!
O filho já estava na porta, pronto para sair; disse ainda:
— Se for verdade o que eu desconfio, meu pai, mato minha mulher! Pela luz que me alumia, eu mato, meu pai!


A SUSPEITA


Casados há dois anos, eram felicíssimos. Ambos de ótima família. O pai dele, viúvo e general, em vésperas de aposentadoria, tinha uma dignidade de estátua; na família de Solange havia de tudo: médicos, advogados, banqueiros e, até, ministro de Estado. Dela mesma, se dizia, em toda parte, que era "um amor" ; os mais entusiastas e taxativos afirmavam: "É um doce-de-coco". Sugeria nos gestos e mesmo na figura fina e frágil qualquer coisa de extraterreno. O velho e diabético general poderia pôr a mão no fogo pela nora. Qualquer um faria o mesmo. E todavia... Nessa mesma noite, do aguaceiro, coincidiu de ir jantar com o casal um amigo de infância de ambos, o Assunção. Era desses amigos que entram pela cozinha, que invadem os quartos, numa intimidade absoluta. No meio do jantar, acontece uma pequena fatalidade: cai o guardanapo de Carlinhos.  Este curva-se para apanhá-lo e, então, vê, debaixo da mesa, apenas isto: os pés de Solange por cima dos de Assunção ou vice-versa. Carlinhos apanhou o guardanapo e continuou a conversa, a três. Mas já não era o mesmo. Fez a exclamação interior: "Ora essa! Que graça!". A angústia se antecipou ao raciocínio. E ele já sofria antes mesmo de criar a suspeita, de formulá-la. O que vira, afinal, parecia pouco, Todavia, essa mistura de pés, de sapatos, o amargurou como um contato asqueroso. Depois que o amigo saiu, correra à casa do pai para o primeiro desabafo. No dia seguinte, pela manhã, o velho foi procurar o filho:
— Conta o que houve, direitinho!
O filho contou. Então o general fez um escândalo:
— Toma jeito! Tenha vergonha! Tamanho homem com essas bobagens!
Foi um verdadeiro sermão. Para libertar o rapaz da obsessão, o militar condescendeu em fazer confidências:
— Meu filho, esse negócio de ciúme é uma calamidade! Basta dizer o seguinte: eu tive ciúmes de tua mãe! Houve um momento em que eu apostava a minha cabeça que ela me traia! Vê se é possível?!


A CERTEZA


Entretanto, a certeza de Carlinhos já não dependia de fatos objetivos. Instalara-se nele. Vira o quê? Talvez muito pouco; ou seja, uma posse recíproca de pés, debaixo da mesa. Ninguém trai com os pés, evidentemente. Mas de qualquer maneira ele estava "certo". Três dias depois, há o encontro acidental com o Assunção, na cidade. O amigo anuncia, alegremente:
— Ontem viajei no lotação com tua mulher.
Mentiu sem motivo:
— Ela me disse.
Em casa, depois do beijo na face, perguntou:
— Tens visto o Assunção?
E ela, passando verniz nas unhas:
— Nunca mais.
— Nem ontem?
— Nem ontem. E por que ontem?
— Nada,
Carlinhos não disse mais uma palavra; lívido, foi no gabinete, apanhou o revólver e o embolsou. Solange mentira! Viu, no fato, um sintoma a mais de infidelidade. A adúltera precisa até mesmo das mentiras desnecessárias. Voltou para a sala; disse à mulher entrando no gabinete:
— Vem cá um instantinho, Solange.
— Vou já, meu filho.
Berrou:
— Agora!
Solange, espantada, atendeu. Assim que ela entrou, Carlinhos fechou a porta, a chave. E mais: pôs o revólver em cima da mesa. Então, cruzando os braços, diante da mulher atônita, disse-lhe horrores. Mas não elevou a voz, nem fez gestos:
— Não adianta negar! Eu sei de tudo! E ela, encostada à parede, perguntava:
— Sabe de que, criatura? Que negócio é esse? Ora veja!
Gritou-lhe no rosto três vezes a palavra cínica! Mentiu que a fizera seguir por um detetive particular; que todos os seus passos eram espionados religiosamente. Até então não nomeara o amante, como se soubesse tudo, menos a identidade do canalha. Só no fim, apanhando o revolver, completou:
— Vou matar esse cachorro do Assunção! Acabar com a raça dele!
A mulher, até então passiva e apenas espantada, atracou-se com o marido, gritando:
— Não, ele não!
Agarrado pela mulher, quis se desprender, num repelão selvagem. Mas ela o imobilizou, com o grito:
— Ele não foi o único! Há outros!


A DAMA DO LOTAÇÃO


Sem excitação, numa calma intensa, foi contando. Um mês depois do casamento, todas as tardes, saia de casa, apanhava o primeiro lotação que passasse. Sentava-se num banco, ao lado de um cavalheiro. Podia ser velho, moço, feio ou bonito; e uma vez - foi até interessante - coincidiu que seu companheiro fosse um mecânico, de macacão azul, que saltaria pouco adiante. O marido, prostrado na cadeira, a cabeça entre as mãos, fez a pergunta pânica:
— Um mecânico?
Solange, na sua maneira objetiva e casta, confirmou:
— Sim.
Mecânico e desconhecido: duas esquinas depois, já cutucara o rapaz: "Eu desço contigo". O pobre-diabo tivera medo dessa desconhecida linda e granfa. Saltaram juntos: e esta aventura inverossímil foi a primeira, o ponto de partida para muitas outras. No fim de certo tempo, já os motoristas dos lotações a identificavam à distância; e houve um que fingiu um enguiço, para acompanhá-la. Mas esses anônimos, que passavam sem deixar vestígios, amarguravam menos o marido. Ele se enfurecia, na cadeira, com os conhecidos. Além do Assunção, quem mais?
Começou a relação de nomes: fulano, sicrano, beltrano... Carlinhos berrou: "Basta! Chega!". Em voz alta, fez o exagero melancólico:
— A metade do Rio de Janeiro, sim senhor!
O furor extinguira-se nele. Se fosse um único, se fosse apenas o Assunção, mas eram tantos! Afinal, não poderia sair, pela cidade, caçando os amantes. Ela explicou ainda que, todos os dias, quase com hora marcada, precisava escapar de casa, embarcar no primeiro lotação. O marido a olhava, pasmo de a ver linda, intacta, imaculada. Como e possível que certos sentimentos e atos não exalem mau cheiro? Solange agarrou-se a ele, balbuciava: "Não sou culpada! Não tenho culpa!". E, de fato, havia, no mais íntimo de sua alma, uma inocência infinita. Dir-se-ia que era outra que se entregava e não ela mesma. Súbito, o marido passa-lhe a mão pelos quadris: — "Sem calça! Deu agora para andar sem calça, sua égua!". Empurrou-a com um palavrão; passou pela mulher a caminho do quarto; parou, na porta, para dizer:
— Morri para o mundo.


O DEFUNTO


Entrou no quarto, deitou-se na cama, vestido, de paletó, colarinho, gravata, sapatos. Uniu bem os pés; entrelaçou as mãos, na altura do peito; e assim ficou. Pouco depois, a mulher surgiu na porta. Durante alguns momentos esteve imóvel e muda, numa contemplação maravilhada. Acabou murmurando:
— O jantar está na mesa.
Ele, sem se mexer, respondeu:
— Pela ultima vez: morri. Estou morto.
A outra não insistiu. Deixou o quarto, foi dizer à empregada que tirasse a mesa e que não faziam mais as refeições em casa. Em seguida, voltou para o quarto e lá ficou. Apanhou um rosário, sentou-se perto da cama: aceitava a morte do marido como tal; e foi como viúva que rezou. Depois do que ela própria fazia nos lotações, nada mais a espantava. Passou a noite fazendo quarto. No dia seguinte, a mesma cena. E só saiu, à tarde, para sua escapada delirante, de lotação. Regressou horas depois. Retomou o rosário, sentou-se e continuou o velório do marido vivo.

O texto acima, extraído do livro "A vida como ela é...", Companhia das Letras - São Paulo, 1992, pág. 219, é um de seus mais famosos contos, tendo sido tendo sido adaptado para o cinema com grande sucesso.

Adaptação Audiovisual - A Dama do Lotação



https://www.youtube.com/watch?v=9YdRnXcAqxU

Nelson Rodrigues - Biografia (pesquisa)




Por André Gomes (Funarte)



Foto: http://newsfut.wordpress.com/tag/nelson-rodrigues/

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em Aldeia Campista, bairro que depois seria absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação fértil do futuro escritor, a realidade da Zona Norte carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu como fonte de inspiração para Nelson construir personagens memoráveis e histórias carregadas de lirismo trágico.
Aos 13 anos, ingressa na carreira de jornalista, trabalhando como repórter policial em A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai, Mário Rodrigues, que marcaram época – o segundo foi Crítica, palco de uma tragédia que abalaria o dramaturgo profundamente: o assassinato de seu irmão, o ilustrador e pintor Roberto Rodrigues, em 1929.
Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi para ele um ambiente privilegiado de expressão. Dentre seus textos propriamente jornalísticos, destacam-se aqueles dedicados ao futebol, em que empregou toda sua veia dramática, transformando partidas em batalhas épicas e jogadores em heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e revistas, assinando artigos e crônicas, como a popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.
Em 1943, a consagração no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: sua segunda peça, Vestido de Noiva, montada por um grupo amador, Os Comediantes, dirigida pelo polonês recém-imigrado Ziembinski e com cenários de Tomás Santa Rosa, revolucionava a maneira de se fazer teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum de Família, de 1946, que trata de incesto, foi censurada, sendo liberada apenas duas décadas depois. Dali em diante, sua obra despertaria as mais variadas reações, nunca a indiferença.
O prestígio alcançado pelo reconhecimento de seu talento não livrou-o de contestações ou perseguições. Classificado pelo próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”, seu teatro chocou plateias, provocando não apenas admiração, mas também repugnância e ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por seu temperamento inclinado à polêmica e à autopromoção.
Nelson Rodrigues morreu no Rio de Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos romances, contos e crônicas, deixou como legado 17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no entre os grandes nomes do teatro brasileiro e universal.
Texto extraído do site www.funarte.gov.br

Radionovelas


Relembrando célebres radionovelas e atores conhecidos do formato.


https://www.youtube.com/watch?v=ZYU8EgOPl68